terça-feira, 6 de setembro de 2011

Os condenados - A trilogia do exílio - Oswald de Andrade



“Um velho barco tem sempre uma grande história, uma história maior que a do oceano” pg 328 Este trecho do livro resume a sensibilidade “cinematográfica” duma obra de arquivo de vivências pessoais do escritor.



Somos todos barcos...

Orelha(trecho):” Documento do difícil começo do modernismo em SP de 1917 a 1921, romance vaiado na semana de Arte Moderna, retrato do artista brasileiro quando jovem, “Os condenados” reúne os três romances planejados por Oswald para “A trilogia do exílio” no formato original – Os condenados (Alma) (1922). A estrela do absinto (1927) e A escada vermelha (1934). Verdadeiro Roman-fleuve do modernismo, intenso e variado, de personagens que se conhece, segundo Mário da Silva Brito, como Mary Beatriz – síntese de Kamiá, Landa e Dayse- na vida de Oswald; Jorge d´Avelos, síntese do próprio autor com o escultor Brecheret, e Mongol, a Pagu da rebeldia libertária. Romance de primeira geração modernista, drama exuberante e sofrido dos jovens artistas em rebelião contra o conservadorismo da sociedade paulistana, na procura tortuosa de uma vida autêntica, vivendo cenas do espetáculo do sofrimento humano, conta a história de lutas, castigos, desesperos e condenação, onde Carlos Drummond de Andrade viu “uma dor positiva, flagrante, uma dor nua”. Lança um grito de angústia e uma crítica radical dirigidos à família, à igreja, à imprensa e à própria história nacional, uma “indominável revolta contra o meio social” (Nestor Victor)
Monteiro Lobato foi o primeiro a ver a vida de Luquinhas “primorosamente cinematográfica numa série de quadros à Griffth”(1922) O estilo se adapta como um Emaillot à vida trepidante do século” (Sérgio Miliet, 1941)...”

Personagens/cenas (trechos) – Velho Lucas (avô de Alma) “ O velho Lucas, recolhido ante o oratório pequenino e sem vidro dos filhos falecidos,com santos nas paredes internas e uma corte de figuras celestes de diversos tamanhos, trazidos ainda do Amazonas, rezava por todas as madrugadas pálidas ou azuis. Nada queria da vida que lhe dera alguma coisa e tirava mais do que dera. Tinha o cão pequenino, a neta ruiva, o moleque. E sabia que
Deus o esperava no fim das tardes vacilante de seus dias.”

Alma/Telegrafista – “Alma vestia-se numa auréola,rindo muito o seu riso desigual e lascivo daquela amor macambúzio.
Sob o abajur, ouro e azul, o belo corpo numa camiseta transparente e curta, maxixava cantando:
-Tari-tari!Bem picadinho!Vou dançar...
João sentara-se pensando na impossibilidade de prolongar aquela vida.
Na íntima penumbra do peito, sentia correr-lhe um rio de tristezas atávicas, inexpressivo, surdo e tenebroso.
Pensava na sua incapacidade invencível para as festas da terra. Seus pais nunca haviam maxixado, nem sua irmã louca, pobre Ofélia sem Hamlet...”

Jorge- “ Fora sempre um fragmentário. Em torsos quebrados, metades, estudos largados, concentrava numa predileção alegre e constante a força reveladora da sua arte. Era um criador de mutilações”

“Sentia-se cansado. Resignava-se. Aceitaria doravante as diminuições que viessem. Era isso mesmo a vida humana- uma série de quedas físicas e de provações morais, em torno de uma grave e íntima ascensão...”


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