segunda-feira, 5 de maio de 2014

Elogio da Loucura - Erasmo


Não, decididamente não será questão de concurso público optar em a, b ou c qual a postura de Rotterdam frente a igreja católica. Então, por vezes continuo a me perguntar: por que diachos ainda faço este tipo de leitura se preciso ganhar dinheiro? Não seria mais sensato estudar raciocínio lógico ou teorias da personalidade, Lacan que adoram colocar em prova, por exemplo?
Então, posto aqui o que por ventura possa ser de alguma utilidade pra você e as moscas.Se não hoje, daqui um tempo, como reparo na procura sem zumbidos de outros posts antigos.
Erasmo é a própria loucura se elogiando, chamou-me bastante atenção as colocações “dela” em relação as mulheres. Quando citado “homem” a maioria das vezes tem significado de espécie humana, humanidade; outras vezes aparece com o sentido de gênero mesmo. Claramente o autor tinha consciência em relação a esta diferenciação.



Segue trechos:

“...Não falarei no entanto, como os pedantes que sobrecarregam hoje as cabeças das crianças com um monte de tagarelas difíceis, e que lhe ensinam a discutir com mais teimosia que as mulheres...”

“...é verdade que a mulher é um animal extravagante e frívolo; mas é também divertida...”

“..não creio que as mulheres sejam loucas a ponto de se zangarem com o que digo aqui, sou do sexo delas, sou a loucura...”

“...as mulheres ao contrário, tem a face lisa, a voz suave, a pele delicada, tudo nelas oferece a imagem encantadora de uma juventude contínua, aliás, tem elas outro desejo na vida se não agradar os homens?...”

E por aí vai... termina o que toca a esta questão de gênero assim:
“...lembrai-vos, peço-vos que é a loucura, que é uma mulher que acaba de vos falar, mas lembrai-vos também deste provérbio grego: “um louco diz as vezes coisas boas” – a menos que penseis que as mulheres sejam uma exceção a esta regra geral...”

Sim, também tem muita coisa boa que este louco discorre, principalmente quando coloca sobre os teólogos (ele mesmo o era) e começa a analisar Eclesiastes e São Paulo. Não vou citar aqui pra não perder o auge da leitura.

Segue outras colocações bem interessantes:

“...Os poetas não me devem tanta obrigação, sua condição mesma lhes dá o direito natural aos meus dons...”

“...O numero de nós que prendem o calçado, a cor e a largura do cinto, a tonalidade do hábito, o tecido com o que ele deve ser feito, a forma e o tamanho preciso do capuz, o diâmetro exato da tonsura, o numero de horas destinadas ao sono, tudo é determinado, medido, fixado. Imaginai os belos efeitos que esta uniformidade deve produzir entre espíritos e corpos tão diferentes entre si!...”

E a melhor:

“... Ora, o que é a vida? É uma espécie de comédia contínua, em que os homens, disfarçados de mil maneiras diferentes, aparecem em cena, desempenham seus papéis, até que o diretor, depois de tê-los feito mudar de disfarce e aparecer ora sob a púrpura soberba dos reis, ora sobre os andrajos repulsivos da escravidão e da miséria, força-os a finalmente sair do palco. Em verdade, este mundo não é senão uma sombra passageira, mas assim é a comédia que nele representamos todos os dias...”







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