Não, decididamente não será questão de concurso público optar em
a, b ou c qual a postura de Rotterdam frente a igreja católica. Então, por
vezes continuo a me perguntar: por que diachos ainda faço este tipo de leitura
se preciso ganhar dinheiro? Não seria mais sensato estudar raciocínio lógico ou
teorias da personalidade, Lacan que adoram colocar em prova, por exemplo?
Então, posto aqui o que por ventura possa ser de alguma utilidade
pra você e as moscas.Se não hoje, daqui um tempo, como reparo na procura sem zumbidos de outros posts antigos.
Erasmo é a própria loucura se elogiando, chamou-me bastante
atenção as colocações “dela” em relação as mulheres. Quando citado “homem” a
maioria das vezes tem significado de espécie humana, humanidade; outras vezes aparece com o sentido de gênero mesmo. Claramente o autor tinha consciência em
relação a esta diferenciação.
Segue trechos:
“...Não falarei no entanto, como os pedantes que sobrecarregam
hoje as cabeças das crianças com um monte de tagarelas difíceis, e que lhe
ensinam a discutir com mais teimosia que as mulheres...”
“...é verdade que a mulher é um animal extravagante e frívolo; mas
é também divertida...”
“..não creio que as mulheres sejam loucas a ponto de se zangarem
com o que digo aqui, sou do sexo delas, sou a loucura...”
“...as mulheres ao contrário, tem a face lisa, a voz suave, a pele
delicada, tudo nelas oferece a imagem encantadora de uma juventude contínua,
aliás, tem elas outro desejo na vida se não agradar os homens?...”
E por aí vai... termina o que toca a esta questão de gênero assim:
“...lembrai-vos, peço-vos que é a loucura, que é uma mulher que
acaba de vos falar, mas lembrai-vos também deste provérbio grego: “um louco diz
as vezes coisas boas” – a menos que penseis que as mulheres sejam uma exceção a
esta regra geral...”
Sim, também tem muita coisa boa que este louco discorre,
principalmente quando coloca sobre os teólogos (ele mesmo o era) e começa a
analisar Eclesiastes e São Paulo. Não vou citar aqui pra não perder o auge da
leitura.
Segue outras colocações bem interessantes:
“...Os poetas não me devem tanta obrigação, sua condição mesma
lhes dá o direito natural aos meus dons...”
“...O numero de nós que prendem o calçado, a cor e a largura do
cinto, a tonalidade do hábito, o tecido com o que ele deve ser feito, a forma e
o tamanho preciso do capuz, o diâmetro exato da tonsura, o numero de horas
destinadas ao sono, tudo é determinado, medido, fixado. Imaginai os belos
efeitos que esta uniformidade deve produzir entre espíritos e corpos tão
diferentes entre si!...”
E a melhor:
“... Ora, o que é a vida? É uma espécie de comédia contínua, em
que os homens, disfarçados de mil maneiras diferentes, aparecem em cena,
desempenham seus papéis, até que o diretor, depois de tê-los feito mudar de
disfarce e aparecer ora sob a púrpura soberba dos reis, ora sobre os andrajos
repulsivos da escravidão e da miséria, força-os a finalmente sair do palco. Em
verdade, este mundo não é senão uma sombra passageira, mas assim é a comédia
que nele representamos todos os dias...”
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