sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Todos os homens são mortais - Simone de Beauvoir





Trata-se da existência eterna de Fosca, nascido na Itália, em 17 de maio de 1229. Aceita tomar o elixir da imortalidade guardada ha anos por um mendigo que sempre adiou bebê-lo e ofereceu a Fosca em troca que este o deixasse viver em tempos de guerra.
“Tenho medo de morrer, mas uma eternidade de vida é demais” assim define o mendigo e assim sente-se Fosca com o passar do tempo, o peso da sua eternidade. Em séculos demonstra afetividade por algumas pessoas: Catarina, sua primeira esposa, esboça amor ao seu neto deste primeiro casamento, séculos depois insita a viver em tempos de paz por seu filho Antônio, seu amor inatingível por Beatriz que amava tanto Antônio como seu próprio sofrimento e debruçava-se aos livros, o amigo Carlier, Marianne de quem escondeu por anos seu verdadeiro destino e Régine, atriz.

Orelha: “ Através de Fosca, personagem do século XIII, conde insatisfeito com Carmona, pequena cidade a seus pés, Simone de Beauvoir empreende uma viagem atemporal por universos contrastantes:Itália, França, Áustria, Novo Mundo, onde quer que a curiosidade atiçasse o espírito de um ambicioso da glória.De posse do elixir da imortalidade, o nobre medieval se frustra paulatinamente em seus projetos, e chega a nossos dias, vindo a conhecer e amar Régine, jovem atriz de sucesso. Os choques advindos destas circunstâncias fazem com que o heróis se debata em meio a questões de suma importância: a matéria da felicidade, o destino, a transcendência, a liberdade, a vida”

Trechos: Ao despedir-se de Beatriz :
“ _ Adeus. Quando eu tiver partido talvez possa recomeçar a viver.
De chofre seus olhos apagaram-se.
_ É tarde demais _disse.
Contemplei com remorsos seu rosto balofo. Se eu não tivesse desejado tão imperiosamente sua felicidade, sem dúvida ela teria amado, sofrido, vivido. Eu a perdera muito mais seguramente do que perdera Antônio.
Disse:
_Perdoa-me.
Toquei os cabelos com os lábios, mas ela já era apenas uma mulher entre milhões de outras; e a ternura e o remorso tinham o sabor das coisas passadas.

Quando Carlier suicida-se:
“Afastei-me. Fui deitar-se atrás de uma árvore. Pensava:”E agora, o que vai ser de mim”. Se não o houvesse encontrado, talvez tivesse podido continuar a caminhar durante cem anos, mil anos. Mas tinha-o encontrado e parara, e não podia reiniciar a caminhada. Olhava a lua subir no céu, quando repentinamente ouvi um tiro no silêncio. Não me mexi,Pensava:” Pra ele acabou. Não será nunca possível abandonar a mim mesmo, deixando atrás de mim tão somente uns ossos secos e nus?”.A lua brilhava, como brilhara na noite em que eu saíra alegre e tremendo de um canal escuro, como brilhava por sobre as casas incendiadas: naquela noite um cão uivava; eu ouvia dentro de mim o longo lamento que subia para o bloco de luz parada. Nunca se apagaria aquele astro morto. Nunca se esvairia este gosto de solidão e de eternidade que era minha vida.”

Sobre Marianne:
“Olhou-me: seus lábios esboçaram um sorriso e ela perguntou envaidecida:
_Agradar-lhe-ia realmente?
Dei de ombros; como explicar que desejava sua presença tão somente para matar o tempo, que tinha necessidade dela pra viver, as palavras me trairiam, diria demais ou de menos;desejava ser sincero com ela, mas nenhuma sinceridade me era permitida. Disse rapidamente:
_Sem dúvida.”

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