quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Factotum - Bukowski

Henry Chinasky, mantendo a paixão por escrever artigos, em sua grande maioria com as publicações negadas, relata seus trabalhos temporários, hotéis baratos e vida noturna e alcoólica durante a segunda guerra mundial.
O velho Buk em seu segundo Romance. 
Uma pena, não cairá em conhecimentos gerais ou português na próxima prova de concurso... eu deveria tá estudando... Quer saber? Eu deveria tá lendo exatamente Bukowsky! 
Ah... os trabalhos temporários...
Ah... o trabalho em si...



Seguem os trechos interessantes:

"...Era a primeira vez que eu estava sozinho em cinco dias.Eu era um homem que se fortalecia na solidão; ela era para mim a comida e a agua dos outros homens. Cada dia sem solidão me enfraquecia.Não que me orgulhasse dela, mas dela eu dependia.A escuridão do quarto era como um dia ensolarado pra mim. Tomei um gole de vinho."

"...A ideia de me sentar diante de um homem em sua mesa e lhe dizer que eu queria um trabalho, que eu tinha as qualificações necessárias, era demais para mim. Francamente, eu estava horrorizado diante da vida, o que um homem precisava fazer para comer, dormir, manter-se vestido. Então fiquei na cama enxendo a cara. Quando você bebe o mundo continua lá fora, mas por um momento
é como se ele não o trouxesse pela garganta."

"...Mas, finalmente, com Carmem me pressionando, levei-a até um dos transportes de carga que descarregávamos nos fundos do galpão e a peguei de pé, atrás de um desses caminhões. Foi bom, foi quente; pensei em céu azul e em praias amplas e limpas, porém ao mesmo tempo foi triste- faltava na certa algum sentimento humano que eu desconhecia ou com o qual eu não sabia lidar."

"...Vagabundos de rua indolentes, todos nós que ali estávamos tínhamos consciência de que nossos dias estavam contados.Então relaxávamos, esperando pelo momento em que nossa inépcia viria a tona.Neste meio-tempo, vivíamos de acordo com o sistema, dávamos umas poucas horas honestas e bebíamos juntos durante a noite."

"... -Manny, o que você faz trabalhando numa loja de autopeças?
-Descanso. Minha ambição é consumida pela preguiça.
Tomamos outra cerveja e voltamos ao serviço"

"Era verdade, eu não tinha muita ambição, mas devia haver um lugar pra pessoas assim, digo, um lugar melhor do que o tradicionalmente reservado.Como, diabos, um homem pode gostar de ser acordado as 06:30 da manhã por um despertador, sair da cama,vestir-se, alimentar-se a força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego pra chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro o bolso de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber esta oportunidade?"

"...O motorista se recostava, e nós seguíamos por esta faixa estreita de cimento completamente cercada pela água, e todos a bordo, as vinte cinco ou trinta pessoas confiavam nele, mas eu, jamais.As vezes era um motorista novo e eu pensava, como eles selecionavam esses filhos da puta? Havia água profunda nos dois lados, e um erro de julgamento mataria todos nós. Isto éra ridículo. Suponha que ele tenha brigado com sua mulher naquela manhã? Ou que tenha câncer? Ou que tenha visões de Deus?Um dente podre?Qualquer coisa.Seria o suficiente pra ele. Lá estaríamos nós no fundo do mar. Sei que, se eu estivesse dirigindo, consideraria a possibilidade ou o desejo de afogar todo mundo.
E algumas vezes, depois de ter feito esta consideração, a possibilidade passaria a ação.Para cada Joana d´Arc há um Hitler suspenso do outro lado da balança.A velha história do bem e do mal. Mas nenhum motorista jamais nos lançou no mar. Por suas cabeças não passava mais do que prestações do carro, resultados de beisebol, cortes de cabelo, férias, enemas, visitas familiares. Eu sempre chegava enjoado no trabalho, ainda que em segurança.O que demonstra porque Sshumann é o melhor termo de comparação que Shostakovich."


" A Companhia de Gás do sul da Califórnia punha anúncios nos classificados com promessas de altos vencimentos, aposentadoria com pouco tempo de serviço etc. Não sei quantas vezes preenchi os formulários amarelos de requerimento, quantas vezes me sentei naquelas cadeiras duras, olhando para as grandes fotos emolduradas de dutos e tanques de gás. Jamais tive perto de ser contratado e, sempre que via um sujeito trabalhando para Companhia de Gás, eu o olhava com toda atenção, tentando descobrir o que ele tinha que eu, obviamente não."







sábado, 3 de janeiro de 2015

A PROPRIEDADE É UM ROUBO E OUTROS ESCRITOS ANARQUISTAS





Começa o ano novo ocidental, começar estudando gramática da língua portuguesa pra quê, não é mesmo? Sem sentimento de culpa por não estar temporariamente pensando no gosto salgado do salário frente ao mar e um futuro incerto, durante esta semana, pelo menos. Vamos nós, eu, você e as moscas que acompanham este blog para as leituras que interessam.

Embora o absurdo e a ausência de qualquer leitura seja o oposto complementar, espero buscar com algumas delas  sentidos pro mundo, desfazer sentidos que fui atribuindo a ele conforme as experiências e porque não re significar alguns? Não fazer mais aquela expressão de interrogação atônita quando a pessoa se considera libertária, anarquista e vota.(tá, o absurdo disso, a mim, continua) Quanto tempo de repetição até o arrependimento e constatação de incongruências? O que pode ter de conteúdo cristão dentro de alguns anarquismos? Falando em profetas, tio Proudhon antevia um socialismo autoritário. O que ele disse sobre o comunismo? De quais “propriedades” ele trata?Proudhon está para o anarquismo como Freud pra psicologia, com seus prós e contras...

Proudhon, vislumbra em sua trajetória de vida e escritos, possíveis diálogos para estas e outras questões.

A coleção de bolso L&M pocket, não consta os textos integrais, estão cortados conforme seleção dos editores com suas referências em rodapé. Então os (…) entre os dizeres de um mesmo texto foi conforme o corte de quem os fez, assim como as traduções do francês. Ainda assim, achei legal, dá um panorama das ideias centrais.

Seguirei com as citações interessantes, que são outros cortes dos cortes...

Acho válido registrar as autodenominações surgidas quando trata-se de alguém relevante para o assunto em abordado, embora eu não tenha inclinações pra biografias.

“… “(...) Que forma de governo iremos preferir?
_ Em! Vós podereis perguntá-lo; sem dúvida qualquer um de meus mais jovens leitores responde, “vós sois republicano”
_ Republicano, sim; mas esta palavra não especifica nada. Res publica é a coisa pública. Ora, quem quer que queira a coisa pública, sob qualquer forma de governo que seja, pode se dizer republicano. Os reis também são republicanos.
_Então vós sois democrata?
_Não
_Como! Sereis monarquista?
_Não
_Constitucional?
_Deus me livre
_Então vós sois aristocrata?
_De modo nenhum
_Vós quereis um governo misto?
_Menos ainda
_O que sois então?
_Eu sou anarquista
_Eu o entendo! Vós fazeis sátira; isto está dirigido ao governo.
_De maneira alguma: vós acabais de ouvir minha profissão de fé, séria e maduramente refletida; ainda que muito amigo da ordem, eu sou, com toda a força do termo, anarquista. Escutai-me...”


“...Sempre tive, terei eternamente, o poder contra mim: é esta a tática de um ambicioso e de um covarde?...”

“... Eleito há quinze dias representante do povo, entrara na Assembleia Nacional com a timidez de uma criança, com o ardor de um neófito. Assíduo, desde nove horas, às reuniões das comissões e dos comitês, só deixava a Assembléia a noite, extenuado de fadiga e desgosto. Desde que coloquei os pés sobre o Sinai parlamentar deixei de estar em relação com as massas, à força de me absorver em meus trabalhos legislativos, perdi inteiramente de vista a marcha das coisas(...)É preciso ter vivido neste isolador que se chama Assembléia Nacional para conceber como os homens que ignoram mais completamente o estado de um país são quase sempre aqueles que o representam...”

“ O Estado não negocia nada comigo, não permuta nada, ele me saqueia”

“Ora, nada de autoridade, isto quer dizer o que nunca se viu, o que nunca se compreendeu, harmonia do interesse de cada um com o interesse de todos, identidade da soberania coletiva e da soberania individual”

E a clássica...

“...Ser governado é ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legisferado, regulamentado, depositado, doutrinado, instituído, controlado, avaliado, apreciado, censurado, comandado por outros que não tem nem o título, nem ciência, nem virtude.
Ser governado é ser, em cada operação, em cada transação, em cada movimento, notado, registrado, arrolado, tarifado, timbrado, medido, taxado...(...)
E dizer que há entre nós democratas que pretendem que o governo prevaleça; socialistas que sustentam esta ignomínia em nome da liberdade, igualdade e fraternidade, proletários que admitem sua candidatura a presidente da república! Hipocrisia!...”