Este livro me apareceu no carnaval passado, na porta de um quarto
no RJ, com mais um do Fernando Pessoa e dois filmes, um deles: “Os sonhadores”.
Quem me presenteou não cheguei a conhecer devido a uma série de
desencontros, ou talvez não tenha havido desencontro algum.
Basicamente trata do não pensar quando se lê. Das imperfeições das
traduções, da importância das línguas antigas, da arte de escrever e decadência
da literatura de sua época. Diferencia bons autores da literatura de consumo,
fala sobre a importância dos clássicos e “desce a lenha” na prolixidade do
Hegel. Tudo com a clareza e originalidade que só ele tinha e era pouco
reconhecida em sua época.
Segue a seleção de trechos interessantes:
“... Assim como as atividades de ler e aprender, quando em
excesso, são prejudiciais ao pensamento próprio, as de escrever e ensinar em
demasia também desacostumam os homens da clareza e profundidade do saber e da
compreensão, uma vez que não lhe sobra tempo para obtê-los...”
“... A leitura não passa de um substituto do pensamento próprio.
Trata-se de um modo de deixar que seus pensamentos sejam conduzidos em
andadeiras por outra pessoa...”
“ ...É possível a qualquer momento sentar e ler, mas não sentar e
pensar...”
“Nas ciências cada um quer trazer
algo novo para o mercado, com o intuito de demonstrar seu valor;com frequência,
o que é trazido se resume a um ataque contra o que valia até então como certo,
para pôr no lugar afirmações vazias...”
“...Não há nada mais fácil do que escrever de tal maneira que
ninguém entenda; em compensação, nada mais difícil do que expressar pensamentos
significativos de modo que todos compreendam. O ininteligível é parente do insensato,
e sem dúvida é infinitamente mais provável que ele esconda uma mistificação do
que uma intuição profunda...”
“ ...Usar muitas palavras para comunicar poucos pensamentos é
sempre o sinal inconfundível da mediocridade; em contrapartida, o sinal de uma
cabeça eminente é resumir muitos pensamentos em poucas palavras...”
“...Quando lemos, somos dispensados em grande parte do trabalho de
pensar...”