sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Religiosa


livro: A Religiosa
Autor: Denis Diderot

RESENHA

Motivos da leitura:R$ 7,00 no sebo. Vagas lembranças de ter simpatizado com o autor na aula de filosofia.Quaresma, logo, um bom título. A imagem da capa. O fato do livro não estar no mesmo lugar na prateleira desde a primeira vez que o vi até o dia da aquisição; coisa de ser humano.Tudo isso enquanto deveria estar decorando leis pra concurso.

Li como um romance, a obra remonta de 1760 e inicia-se a partir de uma brincadeira de Diderot e alguns amigos que escrevem cartas a um outro amigo como se fosse uma religiosa por quem este teve particular interesse na época. Pura associação de safadeza; como é relatado no prefácio.

Suzanne Simonin é uma personagem encantadora, amorosa, tem fé e é caridosa, porém, não tem vocação para vida monástica a qual foi submetida por ser filha de sua mãe fora do casamento.
Ela passa por alguns conventos e as personagens das superioras destes lugares são bem interessantes, especialmente a de Arpajon.
O autor traça os perfis psicológicos através de ações e traços físicos, o que atrai o leitor para o interior do personagem.
É uma crítica não a religiosidade em si, mas às regras da vida religiosa.
Uma vez que a trama é sobre a vida involuntária no clautro, seu pólo liberdade é bastante desenvolvido na obra.

Trechos:

"...Levavam-me comida, serviam-me; uma criada acompanhava-me à missa nos dias de guarda, e tornava a trancar-me. Eu lia, trabalhava, chorava, às vezes cantava; assim é que meus dias ecoavam. sustentava-me um sentimento secreto: o de que éra livre, e que minha sorte, por dura que fosse poderia modificar-se, mas estava decidido que eu fosse religiosa, e o fui..."

"...Peço pra ser livre porque o sacrifício da minha liberdade não foi voluntário"

"...O olhar dos seus olhos pequenos parecia ou voltar-se para dentro ou atravessar os objetos vizinhos e enxergar além, a uma grande distância, sempre no passado ou no futuro..."

"...É alternadamente compadecida e dura, no rosto decomposto acusa o absoluto desalinho do seu espírito e absoluta desigualdade do seu caráter; assim, a ordem e a desordem sucedem-se na casa..."

"...encontrei-me na palha que servia de leito, os braços amarrados...foi então que senti a superioridade da religião cristã sobre todas religiões do mundo, que profunda sabedoria existe no que a cega filosofia chama a loucura da cruz. No estado em que me achava, de que teria me servido a imagem de um legislador feliz e coberto de glória?..."